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Setor de games cresce no Brasil, mas trabalhadores seguem precarizados

Setor de games cresce no Brasil – O mercado de games está em crescimento acelerado no Brasil e no mundo, movimentando 200 bilhões de dólares ao redor do globo. Na prática, se tornou o principal setor de entretenimento e mídia do século XXI, movimentando mais dinheiro que o cinema e a indústria fonográfica.

No Brasil – principal mercado da América Latina e segundo maior mercado do Sul Global, atrás apenas da China -, o mercado de games movimenta 13 bilhões de reais e fatura 1,2 bilhão de reais por ano. Segundo levantamento da consultoria Newzoo publicado em 2023, o Brasil é o décimo maior mercado de games do mundo, com mais de 100 milhões de jogadores que gastaram 2,7 bilhões de dólares em 2022.

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A previsão é de que os jogadores brasileiros gastem perto de 3,5 bilhões de dólares até 2025, em uma taxa de crescimento médio acumulado de 10% ao ano desde 2020. Em meio à essa explosão, surge uma emergente cena de criação de jogos nacionais, que vêm se multiplicando de forma vertiginosa nos últimos dez anos.

Segundo pesquisa da Indústria Brasileira de Games realizada pela Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames), entre 2014 e 2022, o número de desenvolvedoras tenha crescido cerca de 160%. Se no começo da década o Brasil tinha em torno de 150 empresas de games, em 2022 esse número ultrapassou 1000 empreendimentos.

Mas ao contrário do que se esperava, os salários e condições dos trabalhadores do setor não acompanharam esse crescimento. A regra, segundo denunciam trabalhadores do setor, é a precarização do trabalho, sobretudo através da pejotização, negando assim direitos trabalhistas garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como férias, 13º salário, entre outros, a quem de fato produz os games.

Precarização e abusos

Uma trabalhadora com 10 anos de experiência na área relata que jamais foi contratada em regime que não fosse o de Pessoa Jurídica (PJ). Pior que isso, conta que apesar de não ter a carteira de trabalho assinada, sempre foi tratada como uma funcionária formal, com jornada de trabalho fixada, tendo que responder a superiores e chegando a gerenciar uma equipe de mais de 80 pessoas.

“Cheguei a trabalhar por 16h por dia, sem direito à hora extra ou qualquer outro benefício, sem receber nada. Consigo contar nos dedos quais empresas estão dando os direitos corretos aos seus funcionários. A indústria está praticamente escravizando pessoas que têm o sonho de fazer jogos”, conta a produtora de games, que terá seu nome protegido para que não sofra represálias do setor.

O relato acende um alerta vermelho para um setor que tanto cresce no país, e que precisa ser fiscalizado por órgãos competentes como o Ministério Público do Trabalho (MPT), pelo Ministério do Trabalho e pelo governo brasileiro como um todo. A revolta da trabalhadora aumentou a partir do momento em que ela tomou conhecimento de quais seriam seus direitos trabalhistas, fato muito comum no Brasil. “Tem menos de 1 mês que eu descobri meus direitos de trabalhadora e isso me impactou muito”.

Os abusos e excessos aos quais são submetidos os trabalhadores da indústria de games têm tido um efeito devastador na saúde mental dos profissionais, acrescenta a denunciante.

“Tem gente sendo mal paga e ficando doente por empreendedores que vendem o PJ como se fosse a melhor coisa do mundo e o CLT um lixo. Eu cheguei a ficar doente de tão pesado psicologicamente que foi para mim. Infelizmente, aceitei as condições pois precisava pagar meus boletos, minhas contas, e também por faltar conhecimento da lei, os quais tenho hoje”.

O Brasil caminha para ser um protagonista da indústria de games, com milhares de jogos produzidos aqui, gerando bilhões e impulsionando a economia nacional através da chamada Indústria 4.0. Mas isso não pode ser feito às custas da exploração de trabalhadores e trabalhadoras que a base do setor, e os verdadeiros responsáveis pelo crescimento exponencial da produção de games brasileiros.

Se você é trabalhador ou trabalhadora do setor de games e quiser fazer uma denúncia, contate o Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo (Sindpd-SP) através do Whatsapp (11) 3823-5600.

(Foto: Reprodução/God Of War)

Vini

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