Queda nas admissões pesou mais que aumento das demissões no setor formal, mostra estudo
Os setores de comércio, construção e alimentação e alojamento foram até agora os mais afetados pelos efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho formal, aponta estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgado nesta segunda-feira. No setor informal, os serviços domésticos se destacam entre os mais prejudicados.
Para fazer a análise, os pesquisadores Carlos Henrique Corseuil, Lauro Ramos e Felipe Russo utilizaram dados do Caged (registro do Ministério da Economia de contratações e demissões de trabalhadores com carteira assinada), dos pedidos de seguro-desemprego e de aberturas de empresa no estado de São Paulo, além da Pnad Contínua do IBGE, que inclui também informações sobre o mercado de trabalho informal.
“O conjunto de medidas para conter a disseminação do novo coronavírus afetou fortemente a população ocupada no Brasil, principalmente a partir de abril deste ano”, observam os pesquisadores do Ipea.
Segundo eles, os dados do Caged revelam que o grosso do ajuste no mercado de trabalho formal aconteceu através de uma redução das contratações, mais do que o aumento significativo das demissões.
Na indústria, por exemplo, a taxa de admissão passou de um crescimento de 3,18% em abril de 2020, para 1,33% este ano. Na construção, o percentual foi de 7,80% em abril do ano passado, a 3,62% este ano. Em alojamento e alimentação, a taxa caiu de 5,14% a apenas 0,74% em igual base de comparação
Já na ponta dos desligamentos, não houve variação significativa da taxa na comparação interanual, à exceção do próprio setor de alimentação e alojamento, cujas taxas de desligamento foram de 9,02% e 8,74% em março e abril desse ano, comparado a 5,62% e 5% em igual mês do ano passado.
Os números de abertura de empresas em São Paulo corroboram os dados de admissão do Caged, observam os pesquisadores, com quedas destacadas em comércio e construção. Os dois setores abriram respectivamente 1.219 e 5.518 empresas em abril de 2019, contra 241 e 1.392 empresas em abril deste ano, a título de exemplo.
Incorporando à Pnad Contínua à análise, o que permite observar os efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho informal, os pesquisadores observam que os impactos já eram sentidos desde março.
Conforme a pesquisa do IBGE, em abril, em relação a igual mês de 2019, a população ocupada do setor de comércio diminui em 1,9 milhão; no setor de construção, em 1,4 milhão; também em 1,4 milhão no setor de serviços domésticos; e em 1,2 milhão em alojamento e alimentação.
Os pesquisadores chamam a atenção para a particularidade da situação dos trabalhadores domésticos afetados pela crise. “É importante lembrar que o segmento de serviços domésticos é caracterizado por elevado grau de informalidade e, portanto, não se beneficia de programas voltados para o emprego formal, como o seguro-desemprego, o que sublinha a necessidade de políticas que conseguem atingir o contingente de trabalhadores informais, como o auxílio emergencial.”
Embora o Caged mostre uma perda tímida de vagas formais na agropecuária, em decorrência da pandemia, a Pnad Contínua revela que, considerando trabalhadores informais, 537 mil postos se perderam no setor em abril, em relação ao ano anterior, destaca ainda o Ipea.
Fonte: Folha de S.Paulo